Vigilância contra fogos na Faia Brava, uma experiência escrita na 1ª pessoa
Dia 1 – O Início
Acordámos extremamente
motivados com o começar do dia da nossa pequena aventura. Por volta das 14h, pegámos
nas mochilas e tenda e partimos em direcção ao destino, a Reserva da Faia
Brava. Uma zona selvagem a cerca de 4 km da aldeia mais próxima (Algodres), uma zona completamente isolada.
Depois de feitas as
apresentações e de irmos buscar algum material para a nossa estadia, a B. (técnica de comunicação da ATN), explicou-nos o projecto e minutos depois estávamos a caminho da Reserva com o
R. Chegados ao nosso “spot”, o R. (técnico florestal da ATN) deu-nos um mapa e
desejou-nos “boa sorte”.
Montámos a tenda,
enquanto ainda era dia (importante referir que não existe eletricidade, água
canalizada ou rede telefónica). Posto isto, tomámos um duche com água à
temperatura ambiente num chuveiro improvisado – vulgo, um bidon (ou bidão?).
Fomos jantar, comida da Mamã que trouxemos, aproveitando a ainda pouca luz do
Sol que existia.

Eram 21:30h quando os últimos raios de Sol desapareceram. A
partir dessa hora até à hora em que estamos agora a escrever, é noite cerrada
(temos uma lanterna para conseguirmos escrever). Não vemos nada, nem ninguém. Só
ouvimos os sons emitidos pelos animais nossos vizinhos, sendo estes um tanto ou
quanto estranhos. Chegámos agora à conclusão que o nosso silêncio aqui é
perturbador. Enfim, vamos dormir.
Dia 2 – A Exploração

Depois de algumas
(poucas) horas de sono, eram 8h da manhã quando acordámos. Estava um calor
imenso logo pela manhã. Depois de toda a higiene pessoal (possível),
fomos tomar o nosso pequeno-almoço na cozinha
improvisada, mas, para nosso espanto, deparámo-nos com um outro fiel
companheiro, um rato (a que chamámos Zé Afonso) que nos acompanhou na refeição.
De seguida, partimos para fazermos algum
reconhecimento da zona. Caminhámos por entre trilhos de média dificuldade
(média pois a vegetação era um pouco densa e o caminho bastante pedregoso).
Ao
regressarmos à base, avistámos três raposas, uma das quais olhou-nos fixamente
e deu-nos a entender a sua vontade em nos liquidar, contudo, elas seguiram o
seu caminho e nós o nosso. Após o almoço, pusemos mãos à obra. Deslocamo-nos
para o nosso ponto de vigia, onde tínhamos como objectivo vigiar toda uma vasta
área, e em caso de incêndio (ou qualquer outro problema) alertar as autoridades
competentes.
Avistámos (com os nossos olhares de Falcão) uma
extensa coluna de fumo, e, como era nossa obrigação, avisámos as autoridades. O incêndio foi extinto o mais rápido possível. Após o término do nosso
trabalho árduo regressámos à nossa humilde casa (tenda) com a sensação de dever
cumprido. Realizámos todas as necessidades fisiológicas e lanchámos enquanto
aguardávamos por uma equipa de campo que nos viria buscar mais tarde.

Por volta
das 18:30h, em conjunto com a equipa de campo, percorremos a reserva a fim de
observarmos a fauna existente, ajudando assim o E. (técnico de monitorização da ATN).
Avistámos assim, alguns coelhos, vacas,
perdizes, um javali e duas cobras, uma das quais venenosa, o que se tornou no
momento mais tenso do dia (importante referir que os trilhos eram de elevado
grau de dificuldade).
Quando chegámos
à base era praticamente noite. Tomámos assim um duche rápido e enquanto
jantámos era já noite cerrada. Após isto, decidimos ir para a tenda. Foi um dia
estafante pois percorremos cerda de 16 km a pé. Vamos agora dormir, até amanhã.
PS: Passados
cerca de 30 minutos depois do fecho de edição do nosso diário, ouvimos um
barulho estranho proveniente do exterior da tenda. De arma (naifa) em punho e
lanterna na mão decidimos enfrentar o que quer que fosse. Afinal era apenas uma
das espigas que se tinha soltado e aquilo era o
som do impermeável a bater na tenda. Enfim
Dia 3 – Contacto com a Civilização
Devido ao
desgaste do dia anterior, acordámos por volta das 9h. Fizemos a nossa rotina
habitual. Tomámos o pequeno e reparámos que o tempo estava diferente. O calor
insuportável dos dias anteriores continuava, porém o ar tornara-se bastante
pesado devido à nebulosidade. Neste dia decidimos fazer uma abordagem
diferente, para começar caminhámos até à aldeia mais próxima (que fica a 4km),
para fazermos uma refeição mais nutritiva, pois os alimentos que possuímos na
caserna não são suficientemente energéticos.
Chegados à aldeia,
almoçámos e trocámos dois dedos de conversa com o senhor J. (proprietário do
restaurante onde comemos). Voltámos então ao trabalho. Desta vez decidimos ir
para um posto de vigia diferente. Após 5h de vigia intensa, regressámos à base,
completamente exaustos. Mas ainda tínhamos pela frente a tarefa de regar o viveiro florestal. Depois disto, reparamos que o céu, mais propriamente na zona Sudoeste
estava com nuvens um pouco negras. Não augurámos nada de bom.

Chegou então a
hora do nosso tempo de reflexão. Cada um de nós foi para o seu sítio e
reflectimos durante cerca de 1h30m. De seguida decidimos ir tomar um duche,
todavia a água estava completamente gelada pois o Sol não foi suficiente para a
aquecer.. Grrr, que frio!
A certo momento do dia deparámo-nos com uma visita
inesperada. A B. veio visitar-nos e trouxe um amigo muito curioso, trouxe-nos
também umas cervejas para bebermos. Depois de uma troca de palavras decidimos ir dar um passeio para abrir o apetite para o jantar, visitámos
assim um pouco da encosta do Vale, e como ficava em caminho, fomos ao local de
alimentação dos abutres.
Avistámos por aí alguns abutres (grifos e abutre do egipto), um deles com cerca de
3m de envergadura e com mais de 5 kg de peso. Poderoso! Ficámos bastante impressionados com
a envergadura do bicho.

Chegámos à base e estivemos no “bate-papo” com os
nossos visitantes. Com isto ficámos a saber que o R. (amigo que veio com a B.)
estava a realizar a
Grande Rota do Vale do Côa (200KM), sozinho, a pé, apenas com o
saco-cama e alguns trapos às costas. Um autêntico vagabundo da floresta.
Impressionante.
Quando eles nos
deixaram na nossa solidão, já era noite. Enquanto jantávamos com apenas uma
lanterna (pois a outra tinha-se estragado na noite anterior), avistámos fortes
relâmpagos e trovoada. Depois de uma breve conversa entre nós, decidimos
irmo-nos deitar. Agora, enquanto escrevemos estas palavras a trovoada lá fora
faz-se sentir (ainda bem que não chove). Vamos (tentar) dormir. Até mais.
Dia 4 – O Regresso Prematuro
Acordámos por volta
das 8h da manhã com uma forte tempestade, chuva e vento fortes. A tenda,
aparentemente intacta, estava a começar a ficar encharcada e começou a entrar
água. Levantámo-nos rapidamente e, claro está, desmontámos o mais rápido que as
condições meteorológicas permitiram a tenda antes que fosse levada por a
tempestade.
A nossa aventura teria que terminar por ali,
pois não existiam condições para continuarmos.
Assim acabou a nossa aventura na Reserva da Faia Brava.
Foi uma enorme experiência que nos
ajudou a crescer bastante enquanto pessoas e a dar valor a certas coisas do
dia-a-dia como um duche quente, uma cama para dormir ou então uma refeição
quente, mas o que mais nos surpreendeu foi o enorme conhecimento biológico e as
histórias engraçadas que os nossos orientadores (B., E., R., etc) têm.
Divertimo-nos bastante, apesar dos momentos menos agradáveis por que passámos.
Aconselhamos toda a gente a fazer o mesmo, e quem sabe, talvez um dia possamos
repetir com mais amigos.
Esperamos agora
uma nova aventura!
Fábio Santos e
Ruben Simão
Este diário é
baseado em factos verídicos (contém algumas hipérboles), e foi cedido pelos autores à Associação Transumância e Natureza